Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 

2024-12-10

Projecto “Abraça a Escola”

Projecto “Abraça a Escola”

 

Palavras chave

escolas  
 

[Fotografia de capa – Jovens no processo de colha de sementes de bétola para o projecto “1 Milhão de Carvalhos na Serra da Estrela”]

No passado dia 27 de Novembro decorreu o debate promovido pelo Projecto Abraça a Escola sobre “O Impacto dos Ecrãs nas Saúde das Crianças e Jovens”. A ASE recebeu o convite da Beira Serra – Associação de Desenvolvimento, mas, por impossibilidades de agenda, não pudemos estar presentes para reflectir em conjunto sobre este tema tão candente. Porém, gostaríamos de parabenizar a Associação pela pertinência e actualidade do tema e agradecer o convite que nos foi endereçado. De forma adicional, e reconhecendo a importância desta matéria, gostaríamos, ainda, de deixar algumas notas no que concerne à relação das crianças e dos jovens com os ecrãs, a par com a necessidade de um envolvimento cada vez maior com os estímulos afectos às necessidades do exterior.

De facto, a literacia internacional, corroborada com estudos no âmbito nacional, aponta para uma correlação positiva entre o aumento do tempo de ecrã em crianças e jovens e a psicopatologia nas mesmas faixas etárias. Isto é, crianças com mais tempo de ecrã diário apresentam maior nível de patologia.

Rangel A. et al (2015) realizaram um estudo e compreenderam que os problemas associados ao sono são frequentes na população portuguesa em idades jovens, identificando uma associação significativa entre a visualização de televisão e o uso de vídeo-jogos e o tempo reduzido de sono por dia. Considerando a importância do sono para o desenvolvimento saudável das crianças, adolescentes e jovens, este estudo acaba por sustentar a ideia de que os objectos digitais têm vindo a ocupar espaço – físico e intelectual – dos adultos do futuro.

Na mesma linha de pensamento, estudos no mesmo âmbito relatam a relação de proximidade entre o tempo de ecrã e a existência de patologia na infância. Por exemplo, o estudo de Rosa e Souza (2021), revela que numa amostra de crianças e adolescentes, aqueles que apresentam patologia são os que têm o “tempo de ecrã” por dia superior ao recomendado. Neste estudo, os autores concluem ainda que a uniformização de recomendações sobre este tema e a respectiva adaptabilidade à realidade em Portugal são de crescente relevância se o que se pretende é apoiar as famílias, os profissionais de saúde e, sobretudo, as gerações futuras.

Neste sentido, tendo em consideração, justamente, a importância de uniformizar as recomendações no que concerne à relação entre os jovens e o tempo de ecrã, a ASE denota a importância de se priorizar os espaços abertos para as crianças, assim como a Escola enquanto promotor de actividades em contextos ao ar livre. Porém, verificamos que há um conjunto de dificuldades que as escolas enfrentam quando tentam fomentar este tipo de actividades: o custo dos transportes, as autorizações dos Encarregados de Educação e toda a burocracia necessária associada a uma vontade natural de conhecer e explorar o mundo exterior. De facto, antigamente, a relação ideia-acção parecia ser mais imediata. Entre professores e alunos nascia uma ideia e, a partir daí, era “fazer acontecer”. Não obstante a importância de zelar pelo bem-estar dos alunos, infelizmente, hoje em dia, na relação entre a ideia e a acção tende a decorrer um processo interminável de complicações, que dificultam – e tantas vezes barram – a concretização de iniciativas no exterior. Proteger os alunos acaba prejudicando-os, pelo que importa cada vez mais que esse bem-estar possa ser acautelado pela não permanência dos alunos e respectivos docentes no mesmo espaço educativo ao longo de todo o ano lectivo. Actualmente, uma visita de estudo é uma conquista, quando o contacto com o exterior devia ser a principal fonte de aprendizagem.

A actividade física, enquanto factor contrariador desta tendência digital que se apresenta como uma afronta ao desenvolvimento físico, intelectual e cognitivo das crianças, deve ser promovida e valorizada, numa aliança que se quer fluida, genuína e frequente entre crianças e o mundo exterior.

O histórico de actividades que a ASE tem proporcionado a milhares de alunos faz-nos crer na importância de estimular a relação entre crianças e jovens com o meio ambiente. Foi dele que viemos, é nele que habitamos e é dele que podemos retirar as maiores lições. A aprendizagem nasce da experiência, da sensação e do contacto, pelo que apoiar o contacto regular com a natureza deve constituir uma prioridade, um factor fundamental para o desenvolvimento biopsicossocial de qualquer aluno. A educação ambiental manifesta-se cada vez mais relevante se queremos combater as tendências da era digital.

 

Referências

Rosa, P. M. F., & de Souza, C. H. M. (2021). Ciberdependência e infância: as influências das tecnologias digitais no desenvolvimento da criança. Brazilian Journal of Development7(3), 23311-23321.

Rangel, M. A., Baptista, C., Pitta, M. J., Anjo, S., & Leite, A. L. (2015). Qualidade do sono e prevalência das perturbações do sono em crianças saudáveis em Gaia: um estudo transversal. Revista portuguesa de medicina geral e familiar31(4), 256-64.

 
 
 

 

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