Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 
Engenheiro silvicultor e arquiteto paisagista

2024-10-07

Incêndios e enxurradas

Incêndios e enxurradas

 

Palavras chave

floresta  fogos  territorio  
 

O País voltou a ter a sua “época dos fogos”, mais uma vez catastróficos, consumindo milhares de hectares de matas e de matos, matando pessoas, entrando nas povoações, queimando casas, carros, oficinas, currais e pocilgas, matando animais –os domésticos e os selvagens. E ficamos à espera da próxima época – dadas as condições climáticas deste início de Outono talvez este ano tenhamos ficado por aqui, mas nunca se sabe.

Mas a catástrofe dos incêndios não se esgota quando eles são apagados. As chuvas, muitas vezes de carácter torrencial, estão já aí e o que vai acontecer é que pelas encostas abaixo vão escorrer toneladas de lamas, cinzas e carrejos sólidos, atulhando as pequenas linhas de água que depois confluem nas ribeiras e rios, até chegarem às albufeiras das barragens, quando as houver no caminho.

Antigamente quando, no dizer de um ex-ministro do Ambiente, estava tudo mal, havia um serviço de correcção torrencial que tratava dessas ocorrências. Um Gabinete dos extintos Serviços Florestais, chefiado por um ilustre técnico de renome internacional, Mário Galo, construía um tipo de barragem por ele inventado, com placas de betão armado que, à medida que um dado nível ficava atulhado, subia outro nível, em escada, sistematizando o curso da linha de água. Eu mesmo construí algumas dessas barragens no Porto Santo. 

Mas medidas de contenção das encostas podem ser feitas rapidamente e de forma eficiente: cravar estacas perpendicularmente ao declive das encostas e servindo elas de suporte a um conjunto de pequenos troncos e ramagens que se colocam transversalmente – amparam os escorrimentos e evitam a sua progressão.

E os engenheiros silvicultores aprendiam isto no Curso, quando a hidráulica florestal era dada pelo exímio Prof. Zózimo do Castro Rego, de saudosa memória. Agora não sei se ainda aprendem. 

E aquando dos fogos já nem se ouve falar de engenheiros silvicultores ou florestais, foram arredados do assunto. Mas também qual é agora o ministro que se decide a ordenar medidas destas, tão simplórias? Um alto dirigente da nação, pelos vistos profundo conhecedor destas matérias, declarou que depois de 2017 tínhamos aprendido a combater os incêndios – pena é que não tenhamos aprendido a evitar os incêndios.

E quanto à rearborização, ninguém diz nada. Desde que começaram estes incêndios catastróficos que milhares e milhares de hectares de encostas e serras ficaram só com vegetação herbácea e arbustiva – não se planta nada até porque são quase exclusivamente de propriedade privada. Noutros tempos existiu um Serviço -o Fundo de Fomento Florestal – que tratava da rearborização das terras privadas e continuam a existir fundos comunitários que podem ser destinados a esse fim…

Qual quê, era dinheiro publico mal gasto, (!!) já que ao Estado não compete tratar do privado, mesmo que os recursos florestais devam ser considerados um recurso nacional – mas isto é conversa para fundamentalistas e ignorantes.

E agora aguardamos até para o ano (e as matas ficam a encher-se de matos, os madeireiros tiram o que querem e deixam o resto) quando forem desembolsados, para os privados, mais uns quantos milhões para combater os incêndios, enquanto parece que a Força Aérea tem alguns aviões capazes de fazerem parte desse serviço e estão parados – deve ser mentira…

 
 
 

 

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