Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 

2024-07-18

As Veredas do Vale do Beijames

As Veredas do Vale do Beijames

 

Palavras chave

beijames  trilhos  veredas  
 

Depois de tudo o que foi feito, não conseguimos compreender.

Há nos confins da Ibéria um povo que não se governa nem se deixa governar. (Júlio César)

Vereda Abitureira

Depois do investimento feito pela nossa Associação, na construção e recuperação das veredas, 10 anos depois, de facto, pudemos sentir que o nosso esforço foi recompensado, porque o Município de Manteigas agarrou no trabalho feito e dotou o seu concelho de uma vasta rede de percursos que denominou de “Trilhos Verdes”. Mais recentemente pudemos constatar que o actual executivo Municipal reconheceu a importância dos percursos como uma mais-valia para o concelho afirmando tratar-se de um investimento e não de uma despesa. Trinta anos depois, sentimos orgulho por ver confirmado o que já, então, iniciávamos em Portugal!

Para relembrar apenas que, para além de procurarmos mostrar as outras, recônditas, belezas da Serra da Estrela, o objectivo era descomprimir a pressão humana que está a ser exercida sobre o seu Planalto Superior. Infelizmente, ICNF/PNSE, Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia e Baldios, continuam a não ver o problema. Pelo contrário até o alimentam como nunca se viu!

Anos mais tarde viramos as baterias para a freguesia de Verdelhos, procurando que o potencial turístico do Vale do Beijames pudesse ajudar a promover esta freguesia e o tecido económico pudesse vir a beneficiar como, de facto, já se estava a verificar.

Começamos há cerca de 20 anos, procurando envolver a população. Foram realizados, pelo menos dois encontros no salão do Centro Cultural a que não apareceram mais que 6 pessoas por encontro. Foi preciso muita persistência para conseguia a confiança que chegou, anos mais tarde com a autorização, dada pelo presidente da Junta de Freguesia, José Morais (já falecido) que tutelava, naquela altura, também o baldio de Verdelhos.

Através do apoio do IEFP, conseguiu-se que três trabalhadores, naturais de Verdelhos, pudessem usufruir, durante 3 meses, do ordenado mínimo para iniciar os trabalhos da construção da Vereda da Abitureira. Foi o maior investimento que a ASE fez, sem receber nada em troca, com o pagamento do seguro, subsídios de refeição e gastos com o transporte diário. Não se protocolou por mais tempo com o IEFP, porque a nossa Associação não dispunha de meios financeiros que permitisse prolongar por mais tempo os trabalhos. Foi o suficiente para se ter alcançado a cota dos 830 metros e aguardar por melhor oportunidade.

Passados dois anos e com o lançamento do Orçamento Participativo, promovido pela Câmara Municipal da Covilhã, fez-se a candidatura, que uma vez aprovada, por votação dos cidadãos, granjeou-nos receber 30.000€ o que nos permitiu dar continuidade ao projecto, através de duros 9 meses, concluindo as veredas do Aguilhão e da Abitureira.

A não construção, de um pontão, suspenso por cabos de aço, sobre o rio Beijames, importante enquanto promotor dos percursos, não foi impeditivo das veredas poderem ser percorridas, como efectivamente se veio a verificar. O facto de ter falecido o presidente da Junta, senhor José Morais, que se tinha comprometido com ajudas em recursos humanos e materiais, bem assim como um processo judicial em que nos vimos envolvidos por reivindicação de verbas não acordadas, deu origem a que se tivesse ficado sem margem financeira para prosseguir os trabalhos.

Sabemos o que foi feito no Vale do Beijames. Temos a noção de estarem lá as veredas mais interessantes da Serra da Estrela, de onde se podem admirar das paisagens mais interessantes da região. Disse mesmo sabe a Câmara Municipal da Covilhã que recebeu as cartas que também nos forem remetidas. Gestos, de gente que domina a temática do pedestrianismo pelo mundo.

O território não é da ASE e, em devido tempo, soubemos endossar a passagem para uma gestão que continuasse a garantir a qualidade das veredas para que Verdelhos pudesse beneficiar do esforço de quantos nela trabalharam. A actual Junta de freguesia assumiu, também, essa responsabilidade durante a campanha eleitoral.

Mas, a vida nem sempre corre como sonhamos! Já antes do grande incêndio eram visíveis os sinais de abandono das veredas. Depois do fogo, então, as veredas foram completamente abandonadas.

Tenho a noção de que ouvi dizer, no curso de turismo, que quando os aspectos são negativos os ecos repercutem-se  num diferencial de 8 para 3. Ou seja, se for mau, oito pessoas ficam a saber disso, enquanto se for bom apenas 3 poderão ficar a saber.

Os sinais do desprezo, por um esforço invulgar, estão a chegar conforme se pode verificar pelos relatos que transcrevemos:

 

“Estive nesta quinta feira passada, feriado, na Serra, a experimentar as veredas do Beijames. Vim de cima, da Fraga, e deparei-me com uma vereda quase intransitável. Demorei imenso tempo a alcançar o Aguilhão, tivemos que ir desbravando caminho, lentamente..

Já nem fizemos a vereda do lado esquerdo do Beijames, subimos direto a partir do Aguilhão direto para as Penhas. Mensagem é só para alertar que a vereda está muito pouco transitável.”

(Pedro Lemos)

 

E acrescentamos:

“Dirijo-me a Vós, com um misto de exultação e amargura. É difícil compreender como nós, em Portugal, somos capazes de criações extraordinárias, que depois embrulhamos em papel de jornal, quando na verdade mereciam embrulho no mais requintado papel de lustro, com fita vermelha e laçarote.

Um bom exemplo deste paradigma bem português é o trilho “Vereda do Beijames”.

Encaixado no lindíssimo vale do rio Beijames na serra da Estrela junto à localidade de Verdelhos (Covilhã), a “Vereda do Beijames” é sem sombra de dúvida um dos trilhos mais bonitos de Portugal, e, com o conhecimento de causa, que me dão os 40 anos de montanhismo percorrendo os mais aclamados circuitos de montanha da Europa,  não me custa colocar a “Vereda” entre o que de melhor existe pela  Europa.

Após inúmeras recomendações de amigos, decidi fazer a “Vereda” aproveitando os feriados do 25 de Abril e 1 de Maio de 2024. Procurei na internet o track GPS do trilho, e fiquei surpreendido com o número de pessoas que tinham já feito o percurso e as boas referências que davam, encontrei até um vídeo feito por um grupo de Holandeses que mostrava as belezas do local.

Como é possível que um trilho que se inicia com boa sinalização, trilho limpo e claro, se converta de repente no mais completo desleixo, abandono e sem qualquer preocupação de manutenção? E notem, não estamos a falar de uma intervenção complexa, é apenas necessário limpar a vegetação que esconde o trilho e as mariolas, pois nos poucos troços onde a vegetação é mais rara, o trilho estava lá e era óbvio.”

(Mário Nogueira)

 

A ASE fez aquilo que mais nenhuma entidade irá fazer, mesmo da freguesia de Verdelhos. Investir com recursos materiais e humanos para promover uma freguesia que perde população, património, sem que se vislumbrem horizontes promissores capaz de inverter esta realidade.

A restauração e os cafés vão perder do pouco que já estavam a sentir. Verdelhos nunca viu tantos estrangeiros como após a construção das veredas. Recuperar, vai custar ainda mais porque os aspectos negativos vão ecoar sobre os potenciais alvos.

Esperemos que os responsáveis pela administração do território da freguesia, meta as mãos na consciência e pense mais no futuro de Verdelhos que noutros quaisquer devaneios.

 
 
 

 

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