2024-06-10
Palavras chave
ambiente sustentabilidadeComo é o do conhecimento público, o Governo tem vindo a entregar avultadas verbas a muitas entidades e agentes locais para procurar colmatar as situações resultantes do grave incêndio de 6 de Agosto de 2022.
Já tivemos oportunidade de referir que, do nosso ponto de vista, o controlo sobre a aplicabilidade das intervenções resultantes dos montantes recebidos deixam-nos sérias reservas. Mais ainda, por termos a convicção de que as intervenções que tem sido feitas estão muito longe de terem seguido as melhores técnicas na área da sustentabilidade dos recursos naturais e da gestão financeira, por métodos de trabalho mais eficientes, quer do ponto de vista económico, quer ecológico.
Tem vindo a ser feito gala nas redes sociais de algumas intervenções, dando a entender ao comum cidadão que se está a trabalhar com eficiência na recuperação de infraestruturas, de habitats, de zonas de contenção, do apoio à fauna e no combate à erosão. A intenção pode ser essa, mas não é isso que na prática acontece. Pelo contrário, o que tem vindo a ser feito é precisamente o contrário do que tem vindo a ser apregoado, uma vez que tais práticas estão a contribuir para o aumento da erosão, da má gestão dos recursos humanos e do equipamento – mais caros e com efeitos mais evidentes nos danos causados. Tem sido uma constante, tanto na regularização dos caminhos florestais, como na operacionalização dos aceiros ou corta-fogos.
A generalidade dos caminhos rurais, bem assim como os aceiros padecem de uma adequada gestão e, em consequência, a vegetação vai dominando-os, acabando por ficar intransitáveis, no caso particular dos caminhos. Enquanto nos corta-fogos, por outro lado, é a sua função que deixa de fazer sentido, pois a descontinuidade dos combustíveis deixa de existir. Não se trata, portanto, do piso irregular nos caminhos ou dos aceiros, mas sim da presença da vegetação, a causa principal que motiva a intervenção.
Ora, o que tem acontecido para desobstruir os caminhos e os aceiros (ou corta-fogos) da vegetação que está a crescer com pujança, é através da utilização de maquinaria pesada que não é de corte, nem de destroçamento dos matos, mas com a utilização de máquinas com lâmina de rasto (e.g. retroescavadoras, niveladoras, caterpillar, etc.). Qualquer leigo sabe que o arranque da vegetação, em vez do seu corte, provoca danos no solo e, em consequência, a sua erosão. O que estamos a procurar dizer é que quem tem a responsabilidade de utilizar os melhores métodos para uma gestão sustentável do território é, precisamente, quem maiores danos lhe está a causar.
Além de mais económico, mais rápido e mais sustentável, o tractor não causa danos na plataforma, destrói a vegetação e incorpora-a no solo, sem que daí resultem riscos de aumento da combustibilidade. Os custos, por hora, pela utilização das diversas máquinas que podem ser utilizadas neste tipo de trabalhos é substancial, entre o tractor com destroçador, a rectroescavadora e a máquina de rastos, que tem, necessariamente, de ser equacionados quando se intervém nestas circunstâncias, mais ainda quando os trabalhos são orientados por serviços públicos e em espaços públicos. O dinheiro encarece, não deve por isso a sua gestão ser deixada ao sabor de quem não tem ideia do que representa para o orçamento de um país que não é rico esbanjar recursos que em vez de resolver os problemas ainda os agrava.
Se a isto acrescentarmos que tais práticas são supervisionadas por técnicos superiores, com percursos académicos que os qualificam e elevam, é caso para ficarmos ainda mais preocupados. Se a tudo isto for considerado que se está num Parque Natural, com profissionais que deverão estar sensibilizados para as questões ecológicas, só temos de nos mostrar incrédulos e temer pelo que podemos esperar quanto ao futuro do Património Natural do maior maciço montanhoso do país.
Defesa ambiental | 2024-11-09
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