2024-05-06
Palavras chave
beijames editorialNum dos últimos Verões, no regresso de uma caminhada pelos recônditos do Vale do Beijames, eis que me cruzo com um cenário, já habitual nesta altura do ano, ao atravessar a barragem de Verdelhos: inúmeras pessoas, disfrutando do melhor que a Serra tem para oferecer – momentos de conexão com a natureza num lugar propício para tal. Deparei-me, no entanto, com uma construção de pedras, também ela cada vez mais habitual, erguida sob um rochedo, no meio do rio Beijames. Na sequência desta miragem, emergiram-me algumas questões sobre a passagem frequente de pessoas neste espaço, que se trata, afinal, de uma Área Protegida.
Quanto do usufruto humano na região da Serra da Estrela constitui uma ameaça aos habitats nela presentes? Para sustentar esta inquietação, debruço-me sobre duas questões.
Uma primeira, que diz respeito à construção abusiva de montes de pedras, a que os leigos teimam em apelidar equivocadamente de “mariolas”. Essas, construídas por pastores, serviam – e servem ainda nos dias de hoje – o propósito de sinalizar-lhes o caminho. Os montes de pedras, por sua vez, construídos repetidamente, dando origem a centenas de estruturas empilhadas, como se de uma moda se tratasse, parecem embelezar as fotografias que se vêem posteriormente partilhadas numa qualquer rede social. Porém, mais do que desvirtuar o sentido que os pastores outrora lhe conferiram, a construção destes empilhamentos apresenta-se como uma ameaça às espécies que dão a estas pedras o significado de lar e um atendado à evolução e permanência destes animais na região, pois deparam-se com as suas casas destruídas, consequência de pequenos – e, aparentemente, inofensivos – caprichos humanos.
Uma segunda, relativa à construção de ninhos para aves, onde se supõe que os mesmos os utilizem (e talvez agradeçam o gesto generoso das pessoas que os constroem). À semelhança das falsas mariolas, são também vítimas desta tentativa de aperfeiçoamento do habitat natural, as aves que vêem facilitado o processo de construção de ninhos, que apenas a eles lhes devia dizer respeito. A construção de ninhos, ou “casotas para pássaros”, deve ser questionada e repensada, de forma a considerar o comportamento natural e espontâneo das espécies da região.
Que se possa reflectir acerca do ambiente natural destas e outras espécies, reconhecendo que as mesmas habitam um espaço de forma autónoma, sem necessidade de intervenção ou modificação humana nestas regiões. Concentremo-nos, ao invés, na conservação da natureza, o primeiro e principal passo para a promoção e protecção do habitat das espécies da nossa Serra da Estrela.
Defesa ambiental | 2024-11-09
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