2024-05-06
Palavras chave
aseQuando, naquela tarde de segunda-feira de fevereiro de 1982, assinei a escritura de fundação da ASE, não se perspectivava no meu horizonte ser professor. Apenas durante o Acampamento de Verão em Linhares, no ano seguinte, essa opção começaria a tornar-se uma realidade.
Como se poderá depreender, a preocupação ambiental, principalmente com a Serra da Estrela, impunha-se quase de forma natural por ser este o meu habitat ao viver no centro dela, em Manteigas.
Chegado à profissão, seria assim normal que essa preocupação fosse passada aos meus alunos, apesar de, na década final do século XX, as preocupações ecológicas não estarem totalmente na ordem do dia e as alterações climáticas fossem algo que apenas “alguns maluquinhos do ambiente” apregoavam. Certo é que essas alterações começavam já a fazer-se sentir, pois os “camões” de neve da nossa infância eram cada vez mais raros!
Por essa época, já a ASE (desculpem, mas deveria ser ACASE, tendo em conta o cerimonial que aprendi através dos ofícios que lembravam sermos Associação Cultural) realizava algumas acções junto da Comunidade (escolar e não só), que pretendiam alertar para a defesa da nossa Serra.
Uma defesa de valores ambientais que profissionalmente fui tentando fomentar junto dos alunos, tendo nalgumas ocasiões proporcionado incursões Serra dentro, sobretudo, quando as comemorações do dia da árvore e do ambiente assim o pediam.
Acima de tudo, era nessas datas que, há décadas, a escola dava protagonismo ao ambiente ou quando um ou outro texto dos manuais o pedia. Acontece que a escola não deve ajudar a proteger o ambiente apenas em dias marcados. Sobretudo hoje, quando a agenda climática nos impele a ser mais proativos na defesa do planeta.
E se, nestes tempos, em qualquer sala de aula podemos encontrar um local específico de recolha para o papel, ou espalhados pelo espaço escolar nos deparamos com caixotes de recolha seletiva para plástico, pilhas ou eletrodomésticos, há ainda muito a fazer para inspirar a vontade de proteger o meio em que vivemos.
Trabalhando com jovens tenho, enquanto professor, a possibilidade de, através de atividades, lhes dar a responsabilidade de serem agentes defensores do planeta onde vivem e transmissores de mensagens fortes capazes de incutir nas famílias a vontade de deixar respirar o planeta que habitamos.
Na região onde a Associação se insere, e nos últimos tempos tão maltratada após o grande incêndio de 2022, muito há ainda para defender 42 anos após a sua criação. Os alunos, logo desde o pré-escolar, são os melhores mensageiros para que em casa se saiba o que fazer para proteger um território que é nosso e que cada vez mais as novas gerações vão desconhecendo (ou conhecendo apenas através de passadiços e trilhos vendidos à exaustão).
O que podemos então fazer?
Talvez regressar às escolas. Logo junto dos mais pequenos e aproveitar (quando haja) algumas das capacidades que o programa Eco-escolas oferece para mostrar o trabalho da Associação na preservação da Serra, mas também dar algum apoio na realização de pequenos passeios pedestres que permitam descobrir a fauna e flora envolvente através de todos os sentidos (cheiro, visão, audição, tato e olfato).
A Serra é um lugar de cruzamento de culturas, de povos, de afloramentos geológicos… Em torno dela nasceram lendas (a da própria designação) que vão caindo no esquecimento e às quais recorro quando falo da importância da sua preservação. Seria bom não as deixar perder.
Hoje, quando olho para uma das milhentas fotos do funil dos Conchos que inundam as redes, a minha imaginação voa para um jogo de tabuleiro onde essa casa daria direito a “Vá directo para a casa Lagoa Comprida”.
Ganharia quem deixasse apenas pegadas e da Serra apenas tirasse fotografias!
Fotografia de capa de Hans Lunshof
Defesa ambiental | 2024-11-09
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