2023-12-06

É preciso fazer mais pelo socorro na Serra da Estrela

Quando, no início da década de 90, demos início a um processo que deu origem aos meios do socorro actualmente existentes, estávamos a desbravar terreno que foi preciso trilhar com pinças.

Apesar de não haver nada que pudesse apelidar-se de “socorro” na Serra da Estrela, quando esta conceptualização surgiu em Portugal, já vinha com algum atrasado, por comparação às exigências que se verificavam noutras montanhas, em particular, da Europa. Quando recebi formação na Escola de Escalada de Alta Montanha de Benasque (Pirinéus espanhóis), já se projectava incluir nas equipas de resgaste técnicos de saúde, pela necessidade que se verificava no terreno de salvar mais vidas humanas.

No passado dia 4 de Outubro, um cidadão inglês, de 53 anos, que percorria a vereda na direcção do Poço do Inferno, pelo Vale do Buraco, sentiu-se mal. A mulher que o acompanhava, sua esposa, pediu ajuda, tendo os Bombeiros de Manteigas feito deslocar para o local seis operacionais e três viaturas.

O apoio do VMER – Viatura Médica de Emergência e Reanimação não foi possível, segundo consta, por falta de médicos. Apesar das tentativas de reanimação, a vítima, que terá entrado em paragem cardiorrespiratória, acabou por falecer.

O tempo decorrido entre o pedido de socorro e o local pode ter tido consequências na morte deste cidadão inglês. Manteigas, uma região com grande potencial para o turismo, projectado nas caminhadas, pela sua localização, não pode continuar a depender de meios de socorro que distam 40 quilómetros desde o centro da vila, aos quais acresce o tempo e a distância dos locais onde estas ocorrências possam suceder.

Os serviços de saúde e da Protecção Civil necessitam de reflectir sobre esta realidade, no sentido de evitar que se passe para o exterior uma imagem profundamente negativa do sistema de socorro na Serra da Estrela, nomeadamente, de Manteigas.

Se já foi ultrapassada a fase em que se discutia acerca das equipas de emergência e a respectiva utilização de um desfibrilhador, é urgente que se avance agora para a melhoria da eficácia do socorro, para que se evitem mais mortes por falhas do mesmo, que persistem não ser colmatadas nesta região.