Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 
Centro de Interpretação da Serra da Estrela
Município de Seia

cise.pt

2023-11-01

O gafanhoto Prionotropis Flexuosa no Parque Natural da Serra da Estrela

O gafanhoto Prionotropis Flexuosa no Parque Natural da Serra da Estrela

 

Palavras chave

gafanhoto  prionotropis  serradaestrela  
 

Prionotropis flexuosa (Serville, 1838), gafanhoto braquíptero da família Pamphagidae, é uma espécie exclusiva da Península Ibérica de ocorrência rara e distribuição fragmentada (imagem de capa). As suas populações estão associadas, normalmente, a zonas de montanha, sendo em Portugal conhecido no Parque Natural da Serra da Estrela, e em Espanha, em algumas regiões nas províncias de Albacete, Ávila, Burgos, Huesca, Leão, Lérida, Madrid, Segóvia e Teruel, (Llorente & Presa, 1997).

Na serra da Estrela, a população foi descoberta apenas recentemente, em 2007, o que não deixa de espantar pois P. flexuosa é um gafanhoto de tamanho grande, conspícuo e de fácil identificação, e nos últimos 100 anos a região foi visitada por numerosos entomólogos, nacionais e estrangeiros. O gafanhoto foi encontrado a sul dos Piornos, numa encosta pedregosa de exposição a leste situada a uma altitude superior a 1600 metros (Bivar-de-Sousa et al, 2008).

A raridade desta espécie, aliada ao facto de ser uma primeira ocorrência em Portugal, determinou um estudo por forma a conhecer melhor a sua distribuição espacial na serra da Estrela, as características do seu habitat e identificar ameaças e factores de perturbação da população, de modo a antever a sua situação no futuro.

Entre Maio e Agosto de 2008, prospectando a zona onde a espécie já era conhecida e outras áreas de potencial ocorrência, tendo em conta parâmetros como a altitude, exposição solar e a composição e estrutura da vegetação do seu habitat, procurou-se obter a melhor estimativa possível da distribuição da espécie. O estudo incidiu nas áreas do planalto das Penhas da Saúde/Alto da Pedrice, no Espinhaço do Cão, no Piornal, e no Terroeiro, numa área de 17 Km2.

A metodologia de campo consistiu em dividir a área selecciondada em quadrículas UTM de 1×1 Km, realizando-se em cada uma delas um transecto para identificação visual, percorrido de forma aleatória durante um período de aproximadamente uma hora. Os registos foram efectuados com um aparelho GPS Magellan Meridian Color, considerando-se como área de ocorrência o espaço definido por uma linha que contorna as observações efectuadas.

Distribuição de P.Flexuosa no PNSE

Distribuição de P.Flexuosa no PNSE

A ocorrência de P. flexuosa foi confirmada apenas no Alto da Pedrice numa área com uma superfície de aproximadamente 20 hectares, correspondente a três quadrículas UTM 1×1 km, situada a uma altitude compreendida entre os 1600 e os 1740 metros (mapa da distribuição acima). Na área de distribuição de P. flexuosa o habitat caracteriza-se por uma vegetação constituída por um coberto arbustivo dominado por piorno (Cytisus oromediterraneus) intercalados por prados das gramíneas Avenula sulcata, Arrhenatherum elatius e Anthoxanthum aristatum (Poacea).

Habitat de P.flexuosa na serra da Estrela

Habitat de P.flexuosa na serra da Estrela

No Espinhaço do Cão, no Piornal e no Terroeiro, a espécie não foi encontrada, apesar do esforço aí realizado. Este facto poderá resultar de nestes locais a população apresentar níveis de abundância não detectáveis com base na metodologia adoptada, não traduzindo, necessariamente, a ausência do gafanhoto.

A ocorrência de P. flexuosa numa área extremamente reduzida, bem como o isolamento da população parecem constituir as principais ameaças à preservação da espécie na serra da Estrela. A estes factores acresce a proximidade do aldeamento das Penhas da Saúde e os vários projectos que se propõem para o local, de que se salienta a instalação de um teleférico, prevendo-se que a população a médio prazo possa estar sujeita a uma forte pressão antrópica. Também o desaparecimento da actividade agro-pastoril tradicional poderá ameaçar a sua sobrevivência uma vez que a manutenção do seu habitat depende do pastoreio.

Embora não tenha sido efectuado qualquer trabalho no sentido de quantificar a abundância da população, o baixo número de registos efectuado sugere que a espécie terá um efectivo reduzido na área de ocorrência.

Considera-se, assim, que esta espécie constitui uma das populações de insectos mais ameaçadas do território nacional, devendo merecer das entidades responsáveis pela conservação da natureza uma atenção particular que permita assegurar a sua manutenção.

 

Referências bibliográficas

Llorente, V. & J. J. Presa, 1997. Los Pamphagidae de la Península Ibérica (Insecta: Orthoptera: Caelifera). Universidad de Murcia. 248 pp.

Bivar-de Sousa, A., J. Conde, & L.F. Mendes, 2008. Reconfirmação da presença de Prionoptropis flexuosa (Serville, 1838) em Portugal, nota sobre a espécie na Península Ibérica e sinonimização das subespécies descritas (Orthoptera, Pamphagidae, Prionotropisinae). Boletín Sociedad Entomológica Aragonesa, nº 42: 341-343.

 
 
 

 

Comente o artigo

1 Comentário


  1. Manuel Costa diz:

    Se a proximidade do aldeamento das Penhas da Saúde e de um teleférico constituiam um aumento da pressão antrópica sobre a espécie imagine-se a consbtrução de um hotel no limite da sua área de distribuição.
    O artigo refere que a sua distribuição não está estudada. Como se vão propor medidas de mitigação? Sim porque o andamento do projeto parece-me inexorável. Cf.: https://www.jornaldofundao.pt/covilha/turistrela-da-luz-verde-para-hotel-no-lugar-do-teleferico

Contactos | Ficha técnica

© 2024 Revista Zimbro

made with by alforreca

Siga-nos